As peças que compõem este volume estão, todas três, marcadas por certo estilo despojado, uma dose significativa de tato, um tom de naturalidade urbana, ou urbanidade naturalizada, cuja peculiaridade não exclui outro tanto de ironia. É através dele que o poeta Sérgio Medeiros, senhor de muitos recursos e surpresas, nos desloca para um universo no qual o insólito ladeia o ameno e um humor, tão corrosivo, quanto discreto, é nosso vizinho mais chegado. O incomum dos títulos As emas do general Stroessner, A revolução dos munícipes e das plantas e Atividades espirituais da Nova Igreja do Brasil de pronto sugere que, se aqui há diálogo com Ionesco ou Buñuel, este nunca se dá em chave abstrata, mas parte de um impulso próprio, político e urgente. Editor d’A retirada da Laguna, professor de literatura na UFSC, radicado em Florianópolis, Medeiros nasceu no Mato Grosso do Sul, estudou em São Paulo e Paris, e o guarani que fala não é mera expressão do interesse antropológico do erudito tradutor de Popol Vuh, é memória pessoal e próxima. A geopolítica da sua invenção poética arma pontes entre um passado próximo e funesto e um agora de pesadelo, jogando luz sobre tudo, políticos paroquiais, pregadores, ditadores, vaidades, esgares, emas, sereias.