Crônicas, memórias, palpites, interpretações ensaísticas fulminantes, tudo tendo uma âncora geral, que o título explicita: trata-se de um paulistano de origem que está vivendo em Porto Alegre. E que está traduzindo Homero, com método, pertinácia e talento. Que vive a realidade trivial da cidade em que mora aparelhado dessa erudição, de fina sensibilidade mas também de um coração aberto para a diferença. Que tem ouvido e cérebro para captar o novo mundo em que vive, durante a maldita pandemia. Sim, diferença: esse é o ponto essencial para a existência do discreto milagre que esse também discreto livro perpetra de modo leve e despretensioso, profundo e agudo. O Leo fala do frio, dos modos ríspidos do atendente do restaurante, de singularidades da fantasiosa (mas real) República Sul-Riograndense, enfim de coisas éticas e estéticas com que passou a conviver. Diferença que o Leo enxerga e dá a ver, crítica e autocriticamente, ajudando-nos a ver o que somos. [...]