O título do livro foi sugerido por uns versos de Jorge Luis Borges: "O esquecimento também é uma forma de memória./ O seu vago porão/ a outra face, oculta,/ da moeda". Aquela que muitas vezes escapa do porão e vem à tona, como um fantasma. Ora, uma das artes do bom cronista é exatamente conciliar o efêmero, aquilo que logo será esquecimento, com o que fica na memória. As duas faces da moeda são fundamentais ao mais volátil dos gêneros literários, gerado ao calor da hora, esmiuçando e tentando entender o fato ainda vivo e palpitante. Crônica é crônica, mas tem também muito de jornalismo, de aventura no cotidiano e de curiosidade de repórter. Essas características estão muito vivas em A Memória e o Esquecimento, não fosse Rodolfo Konder jornalista de formação e paixão, freqüentador constante de vôos internacionais, com os mais diversos destinos, nos quais costuma também incluir os seus leitores. As crônicas de viagem, pelos mais diversos quadrantes do planeta, ocupam parte substancial deste livro. O cronista não pára, está em Copenhague, pouco depois desembarca no México e, páginas adiante, já se encontra em Nova York, "coberta pela neve e ainda iluminada para o natal". O leitor ainda está batendo o queixo de frio e o cronista já está chegando a Buenos Aires, "a elegante e sensual Buenos Aires, com suas ruas largas e arborizadas", a vida noturna intensa. Descanso? Nada disso. A viagem prossegue em muitos caminhos por Israel, pela Jerusalém dos profetas vista ao luar, pela região entre Nazaré e o mar da Galiléia. Felizmente, o cronista não se esquece de deixar o seu depoimento sobre figuras de nosso tempo, como a bela crônica sobre Jorge Luis Borges, ou o depoimento sobre o cineasta Leon Hirszman. A obra reúne ainda prefácios e resenhas sobre livros e autores, lembrados e esquecidos, no eterno combate entre memória e esquecimento.