A bacia Amazônica é a maior bacia hidrográfica brasileira e onde se concentra a maior parte da pesca (em sentido lato) do país. Na Amazônia, foram constatados os maiores níveis de consumo de pescado do mundo, chegando, de acordo com alguns autores, a atingir até 600gr/pessoa/dia, como será discutido ao longo do presente estudo. A importância do pescado para as populações dispersas nas vastas áreas de várzeas e da bacia é vital, constituindo-se na maior fonte protéica disponível. Historicamente, a pesca se desenvolveu à margem do Estado. Com o passar do tempo, a população da Amazônia cresceu, aumentando as pressões sobre os estoques pesqueiros. As viagens de pesca passaram a buscar locais cada vez mais distantes dos grandes centros e os primeiros sinais de depleção foram detectados na década de 1970. O acirramento dos conflitos deu lugar a embates cada vez mais frequentes e violentos. Com a igreja católica trabalhando em suas comunidades eclesiais de base, os agrupamentos humanos do interior da Amazônia consolidaram um senso de comunidade, dando poder às suas lideranças e assumindo uma postura coesa na proteção de seus locais de pesca. Vieram inovações tecnológicas, políticas públicas e incentivos fiscais que deram fomento ao setor. Entretanto, o caminho do antigo Código de Pesca de 1967, para a atual Lei de Pesca de 2009 foi longo. Muitas estratégias de manejo foram adotadas e abandonadas. Novos paradigmas ambientais surgiram com a Constituição Federal de 1988 e, no Brasil inteiro, os movimentos sociais se fortaleceram, com destaque para o importante papel que o Grupo de Trabalho Amazônico desenvolveu em prol das comunidades tradicionais, resultando no surgimento de novos direitos. Os anos 1990 e 2000 marcaram a importante contribuição dos projetos de cooperação técnica internacional no fortalecimento institucional do IBAMA, e na execução do sistema de gestão participativa da pesca. O ano de 2002 entrou para a história do setor pesqueiro como o ano da edição da Instrução Normativa n° 29 do IBAMA, que prevê todos os passos para a construção dos acordos comunitários de pesca, atualmente tão usados na bacia. Em 2009 foi criado o Ministério da Pesca e Aquicultura provocando uma ruptura de paradigmas político, jurídicos e de gestão. O que antes se pautava por uma visão holística, sob a óptica do Ministério do Meio Ambiente e IBAMA, passa para um viés mais produtivista, redundando no fortalecimento do Programa Fome Zero e contribuindo para a segurança alimentar da população. Este livro conta essa história. Não há a pretensão de esgotar o assunto ou estabelecer uma verdade última, mas simplesmente lançar a primeira palavra na construção de um debate sobre o tema.