Há prazer e prazer. Nem todo prazer se deixa guiar tão facilmente para um lugar bem determinado dentro de uma boa ordem das coisas. Há alguns que não servem para nada dentro da economia da vida e que não podem, por outro lado, ser encarados como simples aberrações de uma faculdade de sentir necessária ao ser vivo. Nem a utilidade nem o abuso os explicam. E isto não é tudo. Está espécie de prazer é inseparável de desenvolvimentos que excedem o domínio da sensibilidade e que a ligam sempre à produção de modificações afetivas, daquelas que se prolongam e se enriquecem na direção do intelecto, levando às vezes à realização de ações exteriores sobre a matéria, sobre os sentidos e sobre o espírito de outrem, e exigindo o exercício articulado de todas as potências humanas. Paul Valéry TEORIA DA LITERATURA EM SUAS FONTES, organizado por Luiz Costa Lima, é o único livro em língua portuguesa que se propõe a apresentar um panorama da reflexão teórica sobre a literatura. A obra, publicada pela primeira vez em 1975, chega a sua terceira edição com algumas modificações. A coleção de 23 textos, distribuídos em seis seções - problemas gerais, a estilística, o formalismo russo, o new criticism, a análise sociológica, o estruturalismo - ganha novo caráter gráfico e algumas alterações de conteúdo: o aumento radical da primeira seção, a introdução sobre as estéticas da recepção e do efeito, a substituição de textos antes incluídos e o expurgo da introdução geral, tanto por apresentar uma visão demasiado particularizada da teoria da literatura, quanto por conter uma reflexão hoje demasiado datada. Assim, do total dos 24 textos da primeira edição de TEORIA DA LITERATURA EM SUAS FONTES, são mantidos 19, alguns seriamente revisados, além disso, foram acrescentados outros 13, que, não contando o posfácio, formam um conjunto de 32 textos. Cada um dos tópicos apresentados desde a primeira seção permitiria pelo menos um volume da extensão desta obra inteira. Esta antologia compreende tanto textos não dominantemente teóricos quanto basicamente teóricos. Uma obra imprescindível, dada a situação calamitosa do ensino de teoria da literatura nos cursos de letras. É no interior deste círculo de carências que o livro pretende atuar, pondo à disposição do leitor textos relevantes das diversas maneiras de refletir sobre a literatura. Nascido em 1937, o maranhense Luiz Costa Lima é autor de quinze obras de análise literária, entre as quais Lira e antilira, Limites da voz, O controle do imaginário, Mímesis e modernidade e Terra ignota: a construção de Os sertões. Eleito um dos cinco melhores críticos literários do país por uma comissão de escritores e intelectuais formada pelo suplemento Idéias, do Jornal do Brasil, em 1989, Luiz Costa Lima é também professor titular do Departamento de Letras da UERJ e faz parte do programa de pós-graduação de História da PUC / RJ.