Lembro, em criança, do Dia do Soldado comemorado em Alegrete. Depois de alguns meses de instrução, aqueles conscritos interrompiam a garbosa marcha militar para, em plena praça, jurarem fidelidade à pátria brasileira. De certa forma, os autores desta coletânea de contos se assemelham aos soldados da minha infância. Chegaram um dia à oficina literária vindos de diferentes experiências de vida e trabalharam juntos durante muitos meses para desvendarem os mistérios da arte de escrever. Acertaram o passo para entenderem a cadência de diferentes técnicas essenciais, como a hiperestesia (uso dos cinco sentidos na narrativa), adequação do tempo verbal, equilíbrio dos três elementos da narrativa (personagem, ambiente e ação), economia no emprego de adjetivos, possessivos e outros ismos, atenção constante ao foco narrativo, ao dito sanduíche invertido, do antropomorfismo e de outras técnicas que distinguem o escritor profissional do amador (como separam quem toca por música de quem só "toca de ouvido"). Aprenderam, escrevendo em casa e em sala de aula, que o processo criativo é único para cada um de nós, podendo identificar-nos literariamente como nossas impressões digitais. Entenderam a importância de não interromper o fluxo criativo, só se preocupando em revisar e polir o texto depois de escrito e não durante sua elaboração. Reconheceram, no exercício de escrever, como a arte é uma só, sendo muito semelhantes os processos criativos de escritores, pintores, musicistas. E que todas as artes podem servir de inspiração a um conto, como acontecia com Hemingway, que buscava escrever como Cézanne pintava, ou Van Gogh, que encontrou na prosa de Balzac o caminho para muitos de seus quadros. Raramente tive a oportunidade de reger uma orquestra de escritores tão afinada como esta de Amarildo, Andrea, Ângela, Carlos, Helena, Katya, Luiza, Marcelo, Nelson, Odone, Paulo e Terezinha.