Esta obra representa, a partir de uma análise do funcionamento do poder judiciário que ultrapassa o âmbito do crime e castigo, uma contribuição substancial à tarefa de renovação da historiografia sobre o século 19. Com o intuito de esclarecer a própria natureza da relação entre o Estado que se forjava e a sociedade da época, o autor mergulha em dados sobre os processos, crimes, réus, vítimas e testemunhas da antiga comarca de Rio das Mortes (MG), e desvenda, a partir de um exame detalhado desses documentos, um intenso e complexo processo de interação entre a população local e o sistema judiciário, não apenas como simples mecanismo de repressão do Estado, nem como um mero instrumento do poder privado; aparece também, e de maneira significativa, como mecanismos de regulação de conflitos individuais - pessoas de origem social diversa recorrem ao sistema para obter compensação por violação de direitos, e os crimes mais comuns são praticados em todos os degmentos sociais, sobretudo entre indivíduos do mesmo grupo social. O autor revela ainda a inadequação de abordagens dicotômicas, Estado contra sociedade, e reducionistas, tudo é Estado ou tudo é sociedade, e também da visão puramente repressora da máquina policial e judiciária