É preciso aprender a fica submerso/por algum tempo, escreveu Alberto Pucheu num dos grandes poemas desta década. Em Cidade submersa, de José Antônio Cavalcanti, submersão/subversão nos fazem prender a respiração nas três partes do livro. Não se pode dizer, no entanto, que a cidade esteja situada no leito de qualquer oceano. Localiza-se, ignorando extensões territoriais, no interior de um estado líquido em que viver é a longa espera por algo que talvez não venha. A arte, no entanto, é o que escapa ao não vir. Daí a necessidade permanente de inventar o fôlego, renová-lo, buscar aquilo que se agita acima da superfície perdida entre o aberto e o inalcançável. Submersa é pista falsa. Seria um cinza matricial/flexionado por línguas polidas/em verbos sem pessoas? Ou antes a memória de civilizações submersas/Atlântidas devassas como a nossa/mergulhadas/gota a gota/na barbárie? Ou, ainda, a faca cega/miseravelmente cega/dos dias que não virão. [...]