Início de 1982. Duas mulheres partem do Rio de Janeiro em direção ao oeste brasileiro e de lá se deixam levar pelo canto das musas amazônicas. Uma delas, consciente de seu papel social e político, reivindica suas opiniões, tanto quanto saboreia os deleites da feminilidade livre de proibições depassadas. A outra, carrega consigo um ideal de pesquisa, cujo projeto é um vasto alinhavado com seus obscuros enigmas pessoais e de si mesma pouco se deixa perceber. Um abismo as separa mesmo que se reconheçam amigas. Deixam para trás a modernidade, o conforto, os corpos dourados das orlas cariocas e partem à procura de um outro Brasil. Fuga de uma sociedade definhando nos detritos da ditadura moribunda? O fantasma de um paraíso perdido, refúgio, miragem de um mundo não contaminado pela civilização, que se quer preservado de toda a ganância? Capricho de uma geração que se dá o direito ao fascínio da aventura e a suas escolhas esdrúxulas? Aclamar a liberação da nova mulher, destemida, marcando de seus próprios passos a imensidão de seu território? Unidas na cumplicidade e no caráter barroco de tal peregrinação, as duas mulheres se lançam na realidade viscosa e selvagem do convite lançado pelos lugares e personagens desconhecidos. Ambiguamente fascinadas e temerárias elas vão até o final. Cada uma à sua maneira, elas deverão reconhecer suas próprias escolhas e assumir suas contradições. Não sem consequências. Marlene Iucksch