As tecnologias digitais alcançaram uma potência inusitada, incidindo sobre a organização social de forma incomum na história da humanidade. A velocidade tecnológica, a simultaneidade e a forte presença de imagens produzem efeitos sobre as subjetividades, por exemplo, sobre a percepção do próprio corpo, de si mesmo e do outro. O ideal da transparência tem alterado as concepções de público e privado, obscurecendo os seus limites. A lógica das redes tem levado à diluição do espaço e do tempo, abrandando as rígidas fronteiras que até então delimitavam o real e o irreal, reformulando inclusive a concepção de realidade. A desenfreada competição de mercado e o declínio social das instituições compõem a economia global, corroborando para o cenário socioeconômico de incertezas e de extrema flexibilidade. As redes comerciais promovem a expansão do mercado no ciberespaço, alcançando os lares, até então considerados territórios protegidos da intimidade. Um mundo cada vez mais interconectado convive com um individualismo crescente e com desigualdades cada vez mais agudas. Entretanto, quando as tradições desaparecem, os espaços sociais são desalojados e os sentidos multiplicam-se infinitamente, surgem novas formas de pertencimento social, de identificação e de invenção.