A relação que Hoje, não? estabelece com o leitor é a do tensionamento entre o que acontece em cena, durante cada ato, e o que aconteceu para se chegar à cena. O encaminhamento proposto por Luciana Romagnolli prescinde de recordatórios e te coloca imediatamente dentro da situação, no presente, no agora da encenação proposta. Originalmente escrito como peça de teatro, Hoje, não? torna-se aqui um híbrido de técnicas de criação escrita, com a sucessão de palavras e proposições de movimentos agindo como comentários tanto sobre as inquietações da autora quanto como reflexões críticas sobre sua própria construção. É um texto pelo qual as palavras falam umas com as outras e, desse diálogo, emergem vivas e ativas, cada nova linha sendo a catalisadora da linha seguinte. Ao mesmo tempo em que apresenta um olhar profundo e intimista à personagem (as aspas são porque seria redutor demais classificar o que Ela representa em Hoje, não?), o texto se permite flutuações aparentemente (...)