O livro de Carla Araujo constitui para cada um de nós um momento importante de reflexão e de alargamento de nossa compreensão sobre as relações entre violência e escola. A pesquisa desenvolvida em escola pública de Belo Horizonte privilegia os episódios de violência observados na unidade escolar, que traduzem a experiência de afrontamento de moradores de bairros geograficamente próximos, mas distantes simbolicamente em razão da rivalidade e de formas de conflitos cotidianos. O estudo inova porque investiga as formas de constituição da identidade desses adolescentes que experimentam não só a violência no seu cotidiano, mas o estigma no interior da escola em decorrência do seu lugar de moradia. Mergulhados em ambientes de extrema insegurança e medo, os jovens desenvolvem algumas estratégias na busca de segurança e formação da identidade pessoal que recusam, algumas vezes, formas grupais de sociabilidade, comuns nessa faixa etária. Ao perceber apoio apenas no grupo familiar e em poucos amigos, os jovens tentam lidar com a própria ambigüidade dessa situação. Assim, a violência observada na escola não é exclusivamente escolar, pois exprime menos uma reação à instituição do que a demarcação de espaços de poder, uma espécie de afirmação, pela violência, do direito de ser reconhecido, em situações de extrema desvantagem, decorrente do estigma. (Marília Sposito)