A memória é quente, às vezes escaldante, nos pondo em risco de torrar a pele. É essa imagem-sensação-conceito-textura que nos entrega Paloma Palacio, em seu livro de estreia. Brincamos aqui com a dubiedade da entrega: por um lado, a autora constrói, com as mãos legadas por seu avô (meu avô não queria me entregar/bonecas barbie remela gelecas massa/corrida no lugar, me deu/essas mãos), uma obra poética carregada de referências da infância e da adolescência, vividas no subúrbio do Rio de Janeiro. São lugares (Irajá, Cascadura, o Shopping Carioca, a Rodoviária Novo Rio), elementos típicos (acima de tudo os telhados/de zinco carcaças pupilas/as pipas/um amontoado de bicicletas tábuas/desplegadas/de civilizações passadas), pessoas (a avó, o avô, o colega de escola Pedro), a própria percepção do tempo a passar (do avesso/uma camiseta estirada/contra o vento/no varal/fazia pensar em//caminhadas/ainda que fosse dia/era tarde/avançava/no quintal, as lamparinas). A outra dimensão da (...)