Os poemas de #semfiltro, de Bruno Oliveira Fernandes, remetem, paradoxalmente, a uma dupla filtragem de matrizes em princípio antagônicas: o formalismo das experiências dos anos 60 concretismo, poema-processo e a distensão da poesia marginal da década de 1970. Entre uma e outra, Bruno opta por ambas. A primeira parte, dos poemas visuais a foto e a segunda, dos poemas verbais a grafia unem-se pelo viés ao mesmo tempo crítico e lírico impressos em seus textos, numa atitude saudavelmente avessa à busca de verdades, que só existem em seitas fundamentalistas, poéticas ou de qualquer outra espécie. Com leveza e humor, descumprindo os mandamentos tanto da vanguarda quanto da poesia marginal (afinal, mandamentos só existem para serem desmandados), Bruno brinda o leitor e os leva, com versos, na conversa de que mesmo a serpente, pelo poder do poeta, se transforma em serpentina, antídoto contra o baixo astral destes tempos tão sombrios.