História e memória são as matérias-primas desta narrativa que põe em cena o líder rebelde caucasiano Khadji-Murát em sua luta contra a incorporação da Tchetchênia e do Daguestão pelos russos. A região até hoje é foco de instabilidade política, o que dá surpreendente atualidade a este livro publicado em 1910, ano da morte do escritor. Foi no agreste Cáucaso que o jovem Liev Tolstói serviu como oficial do exército, décadas antes; a experiência repercutiria em seus últimos dias, quando o escritor, agora um ativista em prol dos perseguidos pelo regime czarista, voltou a interessar-se por aquele povo infenso à dominação imperial. Estamos em território russo, mas o cenário não é aquele a que estamos habituados. Não se trata dos personagens aristocráticos que falam francês e desfilam pelos salões de Moscou e Petersburgo, nem de soldados, mujiques e outros tipos populares eslavos que povoam as narrativas de Tolstói. O escritor aqui é um orientalista que se mostra fascinado pela marca da cultura islâmica em pleno Império Russo, e que está simbolizada na capa do livro, com a imagem de uma espada curva que mimetiza o Crescente. A espada, típica dos guerreiros da região, faz parte do acervo do Museu Hermitage.