Marco Aurélio Nogueira, na Apresentação deste Dicionário, observa que, em boa medida, o que será feito politicamente no Brasil após o regime imperial derivará do incansável exercício intelectual de dialogar com as ideias produzidas ao longo do processo de gestação, consolidação e crise do regime monárquico no Brasil. Aquelas ideias, em boa medida, forjaram as explicações que apresentaram o Brasil aos brasileiros. Foi a partir delas que os cidadãos aprenderam a pensar nosso país, foi contra elas ou com elas que o pensamento político democrático evoluiu. E foi para superá-las - assimilá-las e projetá-las em um patamar superior - que se afirmou mais de um estilo de pesquisa acadêmica entre nós. A organizadora do Dicionário, Maria Emilia Prado, partiu de um projeto consistente: acompanhar e analisar as principais obras que compuseram o panorama intelectual do período. Reuniu alguns dos principais pesquisadores brasileiros, que se propuseram a fazer aquilo de que mais se ressente em qualquer área de estudos: buscar a visão de conjunto, articulando uma abordagem analítica - com a qual se reconstroem conceitualmente os diferentes textos - e uma abordagem histórica, que procura situar os textos em seus contextos e circunstâncias, vendo-os como parte dos debates e da efervescência ideológica das distintas épocas. O resultado pode ser comprovado nas páginas do livro, nos textos instigantes e repletos de informações, que põem à prova, com sucesso, as vantagens do método histórico-sistemático. O Dicionário revela-se, assim, como recurso para que a área de estudos como tal ganhe organicidade e maior consciência de sua força e de seus limites. Contribui, também, para ampliar sua capacidade de comunicação, para fazê-la alcançar novos públicos e estimular futuras pesquisas. Consegue isso, entre outras coisas, porque evitou a tentação de padronizar a investigação e de eliminar o pluralismo que é intrínseco a uma ciência como a sociologia das ideias, onde o terreno é sempre escorregadio, a linguagem não está desprovida de ambiguidades, até mesmo porque termos e conceitos empregados confundem-se, muitas vezes, com as palavras e os discursos da vida cotidiana e dos embates políticos e culturais.