Por fim, estou convencido de que um livro é sempre o resultado, direto ou indireto, de alguma insatisfação do autor. Este o é, indiretamente, de uma que tenho com o modo habitual de trabalhar o tema do direito, da hermenêutica e da argumentação jurídica: prestando pouca atenção aos fundamentos da natureza humana e praticamente nenhum interesse por suas origens mais profundas. Minha intenção neste livro é a de demonstrar que se aceitamos os melhores dados disponíveis sobre como são os seres humanos - considerados sob uma ótica muito mais empírica e respeitosa com os métodos científicos - podemos reconstruir os melhores e mais profundos pensamentos humanos sobre o direito e a tarefa do jurista-intérprete de dar ''vida hermenêutica'' ao direito positivo em sua relação na prática cotidiana. Longe de ser inimiga das teorias tradicionais, a perspectiva evolucionista/ funcional é um aliado indispensável das mesmas. Não pretendo substimar o abundante trabalho realizado até o momento no campo do pensamento jurídico e de sua realização prático-concreta em prol de uma alternativa adaptacionista, senão mais bem assentar dito trabalho sobre os cimentos que merece: uma visão realista, naturalista, potencialmente unificada do lugar que ocupamos na natureza. Sem embargo, consciente de que nada provocou maior dano a estas perspectivas teóricas que as meias verdades, as mentiras e as perversas manipulações ideológicas, fiz todos os esforços possíveis para seguir o conselho do clássico e tratar de escrever, eu também, sine ira et studio.