Interfaces é um termo que remete à geometria e à informática, disciplinas que podem oferecer ao psicanalista boas metáforas para caracterizar seu trabalho. Na geometria, a razão humana encontrou seu primeiro triunfo a descoberta da prova irrefutável mas também seu primeiro limite: a relação irracional entre a diagonal e o lado do quadrado. É fácil perceber a analogia com nossa vida psíquica, feita de racionalidade e desrazão. Na informática, a ideia de um aparelho no qual programas e códigos permitem uma variedade quase ilimitada de operações serve como imagem do aparelho psíquico descrito por Freud há mais de cem anos. Nessa perspectiva, as interfaces da psicanálise são suas áreas de contato com disciplinas afins, com o ambiente sociocultural que a impregna e no qual ela se realiza como prática, e também com seu próprio passado, rico e multifacetado solo em que se depositaram sucessivas camadas de húmus, e no qual as criações conceituais e terapêuticas da atualidade mergulham suas raízes.