Nietzsche nunca tratou explicitamente a questão da relação entre cultura e biologia em seus textos, embora ela esteja neles implícita; seus textos, aparentemente, ora ressaltam a cultura, ora os processos biológicos. Isso pode nos indicar algo; o filósofo alemão talvez nunca tenha pensado em termos de predominância da fisiologia sobre a cultura ou da cultura sobre a fisiologia. As fases culturais foram apresentadas por meio de estados fisiológicos; elas são estados fisiológicos, isto é, diferentes graus de hierarquização de forças. Em outras palavras, os impulsos são utilizados por Nietzsche para pensar tanto estados fisiológicos quanto estados culturais. Os impulsos ou forças, ou seja, os quanta de potência, são entendidos como fisiológicos, mas não em um dualismo cultura/biologia; o fisiológico, em Nietzsche, é a própria luta dos impulsos por mais potência - impulsos que constituem não apenas organismos, mas a própria efetividade, o vir-a-ser; seres vivos, o mundo inorgânico, produção humanas, etc. O fisiológico, no pensamento do filósofo alemão, não constitui uma esfera biológica em oposição a uma esfera cultural; o fisiológico nietzschiano rompe a dualidade biologia/cultura. Nietzsche dissolve a questão da predominância da biologia ou da cultura.