Poucos poetas celebraram tão amplamente a vida como Pablo Neruda. Publicado em 1961, após uma forte fase política na obra do autor chileno, 'Cantos cerimoniais' é a síntese deste espírito de comemoração das coisas do mundo. É fruto da maturidade do poeta, com versos escritos em um momento de tranqüilidade na vida de Neruda. Os temas visitados são variados - o exorcismo do passado histórico em A insepulta de Paita, os acontecimentos autobiográficos em O sobrinho do Ocidente, as forças elementares da natureza em vários textos. Mas mais do que o assunto, o fio condutor entre os poemas é o olhar demorado e plácido sobre os fenômenos do mundo. Tal compreensão ritual da vida é exemplar no último poema, Fim de festa - '(...) e outra vez na mesma mesa está o mar,/ Tudo está como esteve disposto nas ondas,/ seguramente assim seguirá sendo.// Seguirá sendo, mas eu, invisível,/ alguma vez já não poderei voltar/ com braços e mãos, pés, olhos, entendimento,/ enredados na sombra verdadeira'.