Encenada pela primeira vez na virada dos anos 1580 para os 1590, A Trágica História do Doutor Fausto, de Christopher Marlowe, rapidamente se transformaria numa referência para o teatro elisabetano. Para além das fronteiras da Inglaterra, a peça iria se tornar um marco na instituição do tema fáustico, um dos mais poderosos mitos literários da modernidade. E não foi pelo entrecho que essa peça alcançou estatuto tão alto. Afinal, histórias de pactos com o demônio remontam aos primeiros séculos da Cristandade, e mesmo seu herói, o tal Doutor Fausto, remete a um sábio alemão que ganhara fama de pactário. Era figura já conhecida, e relatos sobre ele circularam oralmente por décadas, até que, em 1587, serviriam de matéria para um livro anônimo de intenções moralizantes publicado em Frankfurt: História do Doutor João Fausto. Esse livro teve grande sucesso, sendo rapidamente traduzido e publicado na Inglaterra. Foi nessa tradução que Marlowe encontrou mote para sua peça, que ultrapassa em muito o moralismo para tratar dos meandros da consciência e do desejo num tempo (que ainda é o nosso) em que a noção de indivíduo atingia um outro patamar, de autonomia e centralidade na vida social. Este volume reúne traduções dos dois livros, acompanhadas de material crítico, o que permite ao leitor fruir os textos e, adicionalmente, acompanhar o nascimento de um mito fundamental da literatura ocidental.