Em geral, os filhos de grandes escritores, quando resolvem escrever, se revelam medíocres. Ricardo Ramos, filho de Graciliano Ramos, é uma exceção. Desde a sua estreia, em 1954, com os contos de Tempo de Espera, mostrou um talento digno do pai. A escolha do gênero também não foi por acaso. Ao longo de quase quarenta anos de atividade literária, o escritor sempre deu preferência ao conto como veículo ideal de expressão literária. Publicou romances, novelas, memórias, mas foi como contista que firmou o seu nome, sem viver à sombra da glória paterna. Definindo a sua maneira de escrever contos, Ricardo Ramos identifica como elemento essencial "buscar um momento de emoção intensa e breve", mas despojado de qualquer elemento melodramático ou grandiloquente, pelos quais, aliás, revela repulsa. O ideal é captar aquele instante único com a precisão de um cirurgião, recriá-lo com a habilidade de um artesão e concluir com um desenlace inesperado, daqueles que sacodem o leitor,sem permitir qualquer disparidade entre forma e fundo. Claro que, diante dessa exigência, linguagem e estilo são fundamentais. Alguns críticos chegam a apontá-lo como um dos raros inovadores do estilo, na literatura moderna brasileira. Enxuto, preciso, por vezes ousado, como quando se utiliza dos clichês da linguagem publicitária paramostrar a sua interferência no cotidiano do homem moderno (Circuito Fechado). O homem moderno é o grande personagem do escritor, com as suas frustrações (A Mancha na Sala de Jantar), a violência extrema, em Matar um Homem, e no irônico O Policial do Ano, apresentado em forma de roteiro para televisão. Dessa forma, a obra de Ricardo Ramos, como observou Bella Jozef, no prefácio Melhores Contos Ricardo Ramos, "embora sem intenção documentária, forma em seu conjunto um rico testemunho da realidade brasileira".