De todo o escrito só me agrada aquilo que uma pessoa escreveu com o seu sangue. Assim é Procurando Flores, obra de experiências profundas. O que o leitor pode encontrar aqui é uma passagem de vida que atravessa o vivível e o vivido. Amor, alegria, desejo, intensidade e sofrimentos amargos se combinam na narrativa de uma vida que aperta, sufoca, respira, afrouxa, refaz. A história que essa moça nos permite conhecer nos convida a caminhar por cada cantinho de seu próprio labirinto, composto por múltiplas saídas: para lidar com seus conflitos, com o luto, com o amor não correspondido e, sobretudo, com a afirmação de um desejo que aos olhos da sociedade, diante de seus códigos e regras, deveria ser negado. Mas o que é esse desejo e do quê ele é capaz? O aporte conceitual utilizado nessa história toma o desejo não como falta de algo, mas como capacidade de criar algo. Cecília parece aceitar a sugestão dos autores com quem dialoga: não interpretar, mas experimentar o desejo. Não reprimir, mas encontrar nele a efetuação de novos modos de vida. Na trilha de Deleuze e Guattari tal ideia não é utilizada para dizer isto é assim ou para descrever o mundo, mas para criar problemas que ajudam a compreender um mundo, dentre tantos que são possíveis. Sem medo de se opor, impor ou expor, é isso que Cecília nos diz: tantos mundos para quantos desejos houver!