Essa tese tem como objetivo demonstrar que existe um reducionismo em bioética e que este se manifesta a partir de três formas: a) topológico; b) proximidade; e c) laicização da vida. Tais formas de reducionismos impedem a definição de um status moral e também de um trato prudencial com os materiais genéticos e os embriões humanos. Com isso, constata-se o acelerado avanço biotecnológico e a sua intrínseca relação com o mundo da política, da economia e da ciência, que tem gerado uma nova forma de atividade comercial, a saber, da vida humana no nível molecular. Tal situação suscita novos questionamentos. Entre eles, pode-se destacar o seguinte: os materiais genéticos humanos possuem valor ou preço? Tendo em vista a solução dessa questão, considera-se que o resgate do imperativo hipotético da prudência, de matriz kantiana, pode se constituir no fundamento de uma antropologia bioética e, a partir disso, balizar as relações assimétricas entre os pesquisadores, de um lado, e os materiais genéticos e os embriões humanos, de outro lado. Para tal, o princípio da prudência deve ser compreendido como prudência-ponte e ter, nesse sentido, realçado o seu caráter reflexivo e preditivo. Para realizar-se o trabalho, apresentaremos, no primeiro momento, os significados da prudência na arquitetônica kantiana, pontuando a aproximação das questões de bioética com o cosmopolitismo. Nosso objeto tratará da definição do lugar e do papel da prudência no sistema kantiano, demonstrando a sua característica de imperativo hipotético fraco, localizado entre a destreza e a moral, e, por isso, constituindo-se no princípio da prudência-ponte. Feito isso, recorreremos a esse princípio para evidenciar e dirimir o reducionismo em bioética. Nesse segundo momento, teceremos um debate com autores da bioética, apontando para a fragilidade da fundamentação de seus argumentos erigidos a partir das obras morais de Kant, quer seja a favor da manipulação embrionária, quer seja contra tal procedimento. E, por fim, a prudência-ponte será justificada como a condição necessária para se fundamentar uma antropologia bioética, que tem na vida humana molecular o seu objeto adstrito, e não meramente eletivo.