O novo livro do poeta, editor e cibercultor Edson Cruz vai na contramão de uma poética narrativa e seu tanto prosaica que se tornou corriqueira em nossa poesia contemporânea. Primando pela concisão, os versos deste Sambaqui não descartam certa musicalidade, disparando palavras que são "habitadas por ninguém" e lançando uma rede para além das aparências, sobre "coisas que não têm voz", com uma nostalgia cósmica de "tudo o que não veio a ser". No entanto, o tempo do poeta é este que partilhamos, virtualizado, quando "tudo o que é humano/se tornou estranho". Sabedor de que o homem é um ser para a morte, o poeta frui o seu momento sob o sol, argamassando este sambaqui de camadas palimpsésticas. Mas sempre à beira do espanto e de uma provável epifania, com a plena consciência de que o que não sei / eu intuo / o que sei / é entulho