Cascalho (1944) é o romance de estreia do escritor baiano Herberto Sales e inaugura o ciclo temático da mineração diamantífera, em que fixa os aspectos da vida dos garimpos, como o coronelismo, a capangagem e as explorações pelos donos de lavras. Além do valor literário, nesta obra há uma importante contribuição ao estudo do vocabulário e da sintaxe de toda uma região brasileira. Do ponto de vista do estilo e da língua, será talvez esse o melhor e mais sedutor aspecto do romance. Acontece ainda que, ao contrário do que fizeram numerosos escritores regionalistas, não se trata, no caso, de uma anotação erudita e morta, e sim de uma penetração viva e aguda, de uma comunhão real do autor com o meio descrito. Seus garimpeiros falam e agem sem esforço dentro do desenvolvimento normal do tema. Não se sente a presença de um observador com caderninho em mão a registrar palavras exóticas ou metáforas curiosas para, com a matéria-prima colhida, contar histórias falsas, artificiais em sua trama e na psicologia dos protagonistas. Não, essa gente do garimpo é mesmo de garimpo. Ela está cinematografada na sua existência cotidiana e o autor compartilha suas ocupações, seus anseios, suas dores e alegrias. A tristeza e a miséria da situação econômica e social da zona diamantífera ressaltam violentamente, sem que, para as entendermos, se necessite assinar-lhes a autenticidade com interpretações à margem.