Disse, certa vez, Nelson Rodrigues (...) sem torcedor não há futebol. Pode haver futebol sem jogador, mas não sem torcida. Devíamos erguer-lhe uma estátua à porta do estádio. O futebol só começou a ser histórico quando apareceu o primeiro torcedor (...) O trecho, extraído da crônica "O torcedor", é uma exaltação ao anônimo personagem que, por vezes, torna-se tão imprescindível ao espetáculo quanto o ídolo que arrasta multidões. Algumas de suas facetas deveriam ser contadas em verso e prosa. E eles, à sombra da realeza, mereciam a coroação. Por que não juntá-los em uma obra? Por que não identificá-los? Por que não deixá-los recontar a história? Hilton Mattos reúne em "Heróis do cimento - O torcedor e suas emoções", da Editora Revan, 24 dessas figuras com o objetivo de reviver jogos inesquecíveis a partir do testemunho de cada um. O resultado são 208 páginas de deliciosas histórias contadas em forma de romance. Hilton descobriu em cada personagem feitos divertidíssimos, narrados em um texto carregado na emoção. Seja ele herói de um jogo só ou de passagens épicas de seus times. São milagreiros, como Tia Glória, que benzeu o Santo André antes do "Maracanazo" que tirou o título da Copa do Brasil do Flamengo. Globais às avessas, como o baiano que inventou de ser o Mister M brasileiro e logo na sua estréia, na geral, é claro, acertou o resultado de um jogo do Vasco. Fatalistas, como um certo tricolor Heitor, que foi prestigiar a estréia do Fluminense na segunda divisão, num domingo de manhã, achando que só ele estaria no Maracanã. Eram 40 mil. O Flu perdeu. E ele virou ainda mais tricolor. Profetas, como Evandro Bocão, que quando viu Zico batendo um escanteio em 1978 previu o gol do título de Rondinelli logo contra o então favorito Vasco. Para narrar a história desses anônimos heróis do cimento, Hilton Mattos foi buscar o aval de gente que entende - e muito - do assunto: de Zico - o Galinho de Quintino, assinando a orelha; de Sidney Garambone, editor do Globo Esporte, cujo texto emocionante para o prefácio inspirou o título do livro; de Juca Kfouri, escrevendo uma comovente contracapa, que explica - em tudo e por tudo - o motivo desse livro existir.