Quem quer, então, que resolva estudar a história e a sociologia da cidade do Rio de Janeiro, tem que passar pelos textos, jornalísticos ou ficcionais, de Lima Barreto. O seu ponto de observação preferido ficava depois do Méier, em Todos os Santos. Foi dali que ele fotografou e radiografou a sociedade de sua época, denunciando o racismo e as injustiças sociais e captando com ironia e amargura, mas sempre magistralmente, a vida carioca de então. E fez do subúrbio seu posto de observação privilegiado e a matéria prima de seu humanismo absolutamente universal. Este livro de Denilson Botelho só vem reforçar esta assertiva. Construindo o perfil político do autor através de seus textos, o livro mostra não uma estrutura ideológica perfeita e acabada (foi marxista? foi anarquista?), mas um ser humano inconformado com a exclusão política, social e econômica que até hoje persiste no Rio e no Brasil. Assim, o desencanto de Lima com ¿a pátria que não foi¿ é o de todos nós. Analisado microscopicamente neste livro, do bacharelismo à condução da política econômica, do autoritarismo à corrupção, esse desencanto permanece absolutamente atual. E foi impulsionado por ele, hoje infelizmente generalizado, que Denilson Botelho elaborou este primoroso, oportuno e justamente premiado texto.  Nei Lopes