Dizer que o tempo em si não existe, que ele é uma idéia que se forma em nós a partir dos movimentos do mundo, pode parecer algo absolutamente inusitado. Afinal, estamos realmente acostumados a pensá-lo como uma realidade dada. Mas, apesar do caráter polêmico dessa concepção de Jean-Marie Guyau, a verdade é que não temos do tempo uma percepção real, mas apenas sinais materiais que julgamos ser a prova de sua passagem. Que tudo passa, é uma verdade que não está em jogo. O que está em jogo é: existe mesmo um tempo que passa como um relógio abstrato? Esta é uma das muitas questões que Guyau trata em sua reflexão sobre o tempo. E quanto aos temas dos outros escritos, que completam este livro (tais como a origem antropológica das religiões, as hipóteses da imortalidade da alma na teoria da evolução e as críticas de Cícero à filosofia epicurista), pode-se dizer que encontramos neles o mesmo espírito sutil e ao mesmo tempo intenso do homem, do filósofo e do poeta Guyau, que busca, para além de tudo, a beleza e a eternidade da vida no único lugar onde é possível encontrá-las: no instante da própria existência.