Em um romance de surpreendente modernidade, o grande escritor do romantismo se joga de corpo e alma contra a pena de morte. Composta de um texto principal - o diário dos últimos dias da vida de um condenado -, de uma peça na qual personagens inventados por Victor Hugo criticam ferozmente a obra (prefácio à edição de 1829) e de um longo panfleto em defesa da causa (prefácio de 1932), esta edição vem contribuir para um debate em torno de uma discussão que alguns ainda tentam reviver no Brasil. Victor Hugo assumiu um lugar excepcional na história da literatura ocidental, dominando todo o século XIX graças ao gênio e à diversidade de sua obra. (...) Em O último dia de um condenado, o poeta engaja toda a sua eloquência a serviço da causa, demonstrando a injustiça, a ineficácia da pena, a barbárie e os horrores da execução e de suas consequências: "esse homem tem uma família; e então acham que o golpe com o qual o degolam fere apenas a ele? Seu pai, sua mãe, seus filhos não sangrarão também? Não? Matando-o, os senhores decapitam toda a família" (no "Prefácio de 1832"). Ao mesmo tempo em que apresenta técnicas narrativas extremamente avançadas para a época, Victor Hugo nos faz acompanhar as seis últimas semanas de um condenado à morte, desde o tribunal onde foi declarada a sentença capital até o pé do cadafalso. A polêmica que a obra causou na época - pois essa introspecção à beira da morte e o sentimento de atrocidade que a acompanha não podiam deixar insensíveis os contemporâneos de Hugo - permitiu a renovação de edições (três no ano do lançamento) e o acréscimo de dois prefácios, que trazemos nesta edição. No ano de 1829, com uma paródia em forma de peça de teatro, Victor Hugo rebate as primeiras críticas à obra. Mas em 1832, o requisitório racional e argumentativo pela abolição da pena de morte é o complemento perfeito à defesa literária e sentimental de seu romance-manifesto. Ingênuo algumas vezes em seu papel de reformador social, Victor Hugo é no entanto um magistral e eloquente porta-voz da condição humana e de seus direitos.