O corpo se empenha em todo movimento cotidiano: a organização da casa, as roupas estendidas no varal, as frutas que se perdem na fruteira pela ausência de quem as coma, os passos descalços pelo piso frio, a lâmina do papel que corta a pele fina, a escrita que entra no quarto fosse ela a luz cega que irrompe as cortinas. Em tudo que se move, está o gesto a compactuar conosco a existência das coisas. Fernanda traz em seu livro de estreia a pertença a este campo, o Interior do gesto, onde acontecimento é o nome que se dá ao olhar que modifica a paisagem. Nestes textos, a autora convida o leitor a vigiar pelas frestas dos escombros do que foi outrora casa e chama: veja cá, escrever palavras oficina um fenômeno Há ao longo dessas páginas um corpo entregue à vibração das imagens (que não são quaisquer imagens) e o que delas escapam. E, como uma professora atenta, ela se coloca sobre a escrita e ensina ao leitor o poema: o corte da escrita, o desenho de uma palavra, a espera e descanso(...)