Na vida de Campanella (1568-1639), a realidade ultrapassa constantemente a ficção. Ele foi um autêntico personagem de romance, e o historiador não precisa acrescentar qualquer detalhe para revelar um percurso feito de independência inconstante, suspeitas recorrentes, aventuras dramáticas, prisões e torturas, reviravoltas surpreendentes e desfechos imprevistos. Filho de um calabrês analfabeto, ele se tornou um filósofo de renome internacional e autor de uma extensa (e rica) obra, cuja maior parte foi redigida graças à sua prodigiosa memória, no decorrer de 30 anos de prisão. Campanella deveria ter sido condenado à morte como herege reincidente, porém, submetido a uma tortura de aproximadamente 40 horas, fingiu estar louco e escapou da pena capital. Tal personagem, autor ao mesmo tempo de La Cité du soleil e de uma Apologie de Galilée, profeta milenarista e inimigo de Aristóteles e de Maquiavel, constitui um enigma, sobretudo ao se levar em conta suas inconstâncias - mais ou menos (...)