Planejado como um mapa e uma bússola, Do marxismo ao pós-marxismo?, do sociólogo sueco Göran Therborn, é uma tentativa de entender as mudanças sociais e intelectuais entre os séculos XX e XXI. Não tem a pretensão de ser uma história das ideias, mas apresenta propósitos bem claros: situar os espaços de pensamento e as práticas da esquerda; analisar a trajetória do marxismo no século XX; antecipar seu legado para o pensamento radical no século XXI. Radicado em Cambridge, Therborn é conhecido pela desenvoltura com temas diversos, que vão do alto nível de especialização exigido pelas estatísticas demográficas até os desdobramentos contemporâneos do pensamento crítico. "Estamos diante de um sociólogo vocacionado para a pesquisa conceitual, mas que não renuncia ao diálogo com os dados empíricos", afirma Ruy Braga, professor do departamento de sociologia da Universidade de São Paulo, ao distinguir Therborn de outros teóricos sociais. "Num ambiente universitário cada dia mais especializado, este livro relembra-nos uma antiga lição do marxismo clássico: o contato com audiências extra-acadêmicas enriquece o pensamento crítico." Aqueles que conhecem o sociólogo apenas por Sexo e poder, seu memorável estudo das transformações da instituição familiar no século XX, possivelmente se surpreenderão com Do marxismo ao pós-marxismo?, publicado pela primeira vez em português pela Boitempo. A pergunta que norteia este livro conciso e panorâmico é: o marxismo ainda é relevante? Para Therborn, o marxismo pode ter um futuro incerto, mas sua principal fonte ainda tem muito a oferecer para a nossa época: "É bastante provável que Marx seja redescoberto muitas vezes no futuro; novas interpretações serão feitas e novas inspirações serão encontradas - embora pouco propícias a identificações ismo-ista. (...) a impressão que tenho é que ele está amadurecendo, como um bom queijo ou um vinho de safra - não recomendável para festas dionisíacas ou pequenos goles na frente de batalha. Ele é, de preferência, uma companhia estimulante para o pensamento profundo sobre os significados da modernidade e da emancipação humana", afirma o autor, para quem a história da filosofia tende a produzir sempre novas técnicas de leitura.