Ao entrarmos na poesia de Carlos Garcia de Castro, deparamos de imediato com aquilo que é uma marca característica dos seus versos: a celebração de um certo real muito terra a terra, daquilo a que se usa chamar os movimentos inscritos em um cotidiano mensurável, tudo o que afinal está disperso nas horas exteriores e interiores - o corpo, os utensílios recorrentes, os ritmos de uma existência em família ou em comunidade, os amigos que passam ou que o poeta freqüenta e freqüentou, os lugares domésticos ou de passeio que viu, tudo isso que nos enrola em nostalgia se mais tarde recordamos ou, então, que nos permite confirmar nos mapas da nossa existência ou minutos que por nós passaram e, perdendo-se embora, passam a viver em nós para sempre. As presenças de gente e de momentos que nos dão notícias disso que é o mundo, do que vai pelo mundo ou o poeta intui que exista (e nós com ele) nesse universo de complexidade a que é costume chamar os outros. Não nos deixemos enganar: esse mundo de notações é apenas o invólucro em que o autor acondiciona um outro universo que se projeta em outro espaço, mesmo em outro tempo, esse verdadeiro núcleo duro do que constitui de fato a sua poesia.