Este livro parte da idéia de que a questão da cultura/formação (Bildung) perpassa os três grandes momentos da obra do filósofo alemão Friedrich Nietzsche, ao contrário de outras interpretações que preferem o binômio cultura/civilização (Kultur). O autor explica que civilização teria para Nietzsche um sentido negativo em virtude dos limites que ela traria para a livre expressão dos instintos humanos, pois erigiria um corpus normativo que alteraria de forma definitiva a "natureza" do homem. A formação não é um "direito universal". Ela é privilégio de um determinado segmento da sociedade; depende, pois, da condição social. Assim afirma Wilhelm, protagonista de Os anos de aprendizagem de Wilhelm Meister, de Goethe. Não é de modo diferente que pensa Nietzsche. Acreditando que a verdadeira formação caberia apenas aos nobres, critica a burguesia erudita do século XIX, que visava a atrelar a cultura aos novos rumos da sociedade alemã. Ocorre, no entanto, que Nietzsche - como Wilhelm - era burguês. O filósofo investe assim com conhecimento de causa contra seu próprio segmento social, a fim de se pôr para além dele. Mas teria sido bem sucedido?