Escrever um livro é anunciar uma invenção, e Puri o faz numa radicalidade de deixá-lo existir na corda bamba de seu quase desmoronamento. A narrativa é trançada em segunda pessoa com o protagonismo de uma escritora e sua criatura, que ora é seu ápice devocional e ora é o contraste de seu aniquilamento. Quando a fantasia se torna realidade? De que maneira a realidade se desmancha na fantasia? Esse jogo de duplicidade se faz e se desfaz enquanto seu desejo é declarado, confessado, escavado. O devaneio tempera a motivação criadora, e os estados alterados de consciência borram a noção precisa entre o que é real e o que é ficção. Nos interstícios de um amor devocional, a relação frágil entre a autoestima da escritora e a vulnerabilidade de seu objeto de desejo põe em xeque o sentido da adoração, friccionando e tensionando a função da idolatria. Um mergulho na perecibilidade do ato de criar narrativas ficcionais, que esbarra no perigo de se dissolver a cada instante se não for tatuada (...)