Ildásio Tavares destaca-se, no cenário de nossa cultura, como um grande inquieto, um erudito que se despoja de tudo para buscar uma verdade que nunca encontra não é a variedade que lhe interessa, é a busca. Contista, romancista, teatrólogo, com especialidade em letras, em que tirou doutorado e mestrado, como bom baiano sabe mais do que devia e desejava. Não é de admirar que, com bagagem literária tão respeitada, escreva finalmente o seu romance de formação e bota formação nisso. Nada de indagações, de perplexidades, de dor do mundo ou de mal do século. A formação de Watson da Silva o personagem que narra a sua história para um hipotético ouvinte, tal como o Riobaldo de Guimarães Rosa é especificamente a formação sexual nos dois estágios em que viveu sua adolescência e mocidade, a Bahia primeiramente, o Rio depois. Na Bahia, uma grande mulataria brigando para ser branco, um coletivo de Macunaíma onde todos têm todos os caracteres, acompanhamos o Watson que é da Silva e não dos Santos porque todo negro na Bahia é Santos. No Rio, um Rio que não existe mais, em que havia De Sotos nas ruas e um bordel estranhamente chamado Refúgio, o personagem antes de se formar, se informa. E basicamente se informa com as mulheres com quem transa, vale dizer, faz pós-doutorado na arte de amar e viver. O carinho das mulheres é sempre igual, afora o daquela que não tem jeito para isso, e essa, freqüentemente, é a mulher por quem nos apaixonamos. A longa e penosa iniciação de Watson da Silva, narrada para o ouvinte que, a pesar de inexistente, volta e meia se admira com a história, tem um valor que transcende a nostalgia e atinge, quase sem querer, o tempo que nos faz e nos forma, porque ficamos sabendo que o passado não passa nunca. Carlos Heitor Cony