Leio nos Poemas baseados este verso, que me dá prazer: ‘a imagem é como a máscara é, e pessoa é como fausto é, e é como lúcifer sua imagem’. O texto é um objeto fetiche e esse fetiche me deseja. O texto me escolheu, através de toda uma disposição de telas invisíveis, de chicanas seletivas: o vocabulário, as referências, a legibilidade etc.; e, perdido no meio do texto (não atrás dele ao modo de um deus de maquinaria) há sempre o outro, o autor. Como instituição, o autor está morto: sua pessoa civil, passional, biográfica, desapareceu; mas no texto, de uma certa maneira, eu desejo o autor: tenho necessidade de sua figura (que não é nem sua representação nem sua projeção), tal como ele tem necessidade da minha. O que é a significância? É o sentido na medida em que é produzido sensualmente. Ricardo Pedrosa Alves escreve: ‘fausto fustiga o muito revolvido, religa os acidentes numa carne inconsútil e dura/quer o lembrar do leitor, numa briga, quando o fato e o boato combinam missa’. É chamado poeta, não aquele que exprime seu pensamento, sua paixão ou sua imaginação por meio de versos, mas aquele que pensa versos: um Pensa-Verso. (Texto baseado em trechos de Roland Barthes em O prazer do texto tradução de J. Guinsburg)