Dante Milano (1899-1991) compôs a sua obra poética quase em surdina. Esquivo à vida literária, descrente da glória, avesso à mundanidade, versejou a vida toda, mas por imposição íntima, numa permanente busca da beleza. Em certo sentido foi "o poeta puro por excelência", vivendo "para a poesia no sentido de viver em poesia" (João Cabral de Melo Neto) e não de ser reconhecido como poeta. Escrevia muito e rasgava quase tudo. No final, fruto de mais de setenta anos de atividade poética, restaram 141 poemas. O suficiente para fazer dele uma das principais vozes poéticas do modernismo e um dos "nossos poetas mais fortes e mais perfeitos" (Manuel Bandeira) em todos os tempos. Participante arredio do movimento modernista, só publicou oprimeiro livroperto dos 50 anos de idade e contra a sua vontade, graças à astúcia de um amigo. Considerado o maior acontecimento literário do ano e vencedor do maior prêmio literário de então, as Poesias (1948) apenas vinham confirmar o que os amigos mais íntimos do poeta estavam encantados de saber. Ao longo do tempo, saíram outras edições da obra, aumentadas e revistas, reafirmando a extraordinária fidelidade do poeta a si mesmo, à margem de modas e fórmulas poéticas. Como observa Ivan Junqueira, no prefácio Melhores Poemas Dante Milano, "contrariando as tendências efusivas e algo emocionais da poesia brasileira", Dante Milano "cultiva uma poética do pensamento emocionado, como o fizeram os chamados ‘poetas metafísicos’ ingleses do século XVII, o que não significa que sua expressão haja renunciado à emoção". Um tanto contida, a emoção pulsa forte sobretudo nos temas que obcecam o poeta: a morte ("Vem, morte, dor mais branda,/ com esse olhar estagnado e o sorriso tenaz"), o amor, o sonho, por vezes entrelaçados nummesmo poema: "Quem sonha se transfigura,/ quem morre sorri da morte".