A palavra pode até ser um tanto perigosa, mas não há termo que a substitua: lírica. A poesia de Giulia Barão é lírica até a medula da alma, no melhor dos sentidos de alma, de medula e, principalmente, de lírica, essa arte da solidão de que nos fala Emil Staiger, que é receptada apenas por pessoas que interiorizam essa solidão. Não se trata, evidentemente, da solidão do abandono, muito menos de misantropia, mas a solidão voluntária daquela parcela mínima de pessoas que conjugam sensibilidade e inquietação, capacidade de observação e de síntese, e que mergulham nos próprios abismos para desvelar com delicadeza e malícia, com inteligência e modéstia os abismos de cada um de nós. Ou, citando Staiger mais uma vez, aquele em si impossível falar da alma. Os títulos das três partes que estruturam As montanhas seguem lá podem oferecer uma espécie de alegoria desse impossível: da Cordilheira ao Despenhadeiro, e daí ao Mar. Acidentes geográficos que nomeiam tanto o universo natural (...)