Terceiro romance de E. M. Forster, Um quarto com vista (A room with a view) foi escrito em 1903 e publicado em 1908. Transcorrendo em parte na Itália, que o autor visitara em 1901, aproxima-se de outro romance seu, Uma passagem para a Índia, país em que o autor também morou, no sentido de que essas experiências biográficas em outras terras nutriram sua obra romanesca e serviram para suas reflexões acerca da sociedade inglesa da época. Aliás, como de tantos autores ingleses, de Swift a Maugham, de Defoe a Conrad, como esclarece Luiz Ruffato no prefácio à presente edição, em tradução de Marcelo Pen. Lembre-se, ainda, que Howards End, outro romance dele, contrasta personagens ingleses e alemães, sendo recorrente, portanto, a reflexão sobre o outro, o estrangeiro, como pessoa ou como lugar, que perspectiva a leitura sobre si mesmo, no caso, os ingleses e a Inglaterra. Em Um quarto com vista, a insuficiente vida inglesa é confrontada com a Itália, real e mítica. O livro divide-se em duas partes. A primeira passa-se em Florença; a segunda, na Inglaterra, sendo que o último capítulo retorna a Florença e arremata o livro. Dominando técnicas narrativas tradicionais, se comparado às vanguardas da prosa de sua época, Forster, no entanto, inova em outra direção, quando se considera suas posições morais e ideológicas, opostas ao puritanismo inglês. A história é simples, mas as conseqüências, imprevisíveis. Lucy Honeychurch, moça ingênua e recatada, representante de uma aristocracia rural impura, pois filha de um advogado que construiu uma casa no campo, irá realizar um casamento de interesse com Cecyl Vyse, membro da aristocracia urbana londrina, que conheceu na Itália. Mas sua viagem acabará mudando de modo radical sua concepção de mundo e de si mesma.