A base deste livro nasceu de um estudo na Biblioteca da École des Hautes Études en Sciences Sociales (jan./dez. de 1997), por convite da Équipe Fonctions Imaginaires et Sociales des Artes et des Littératures (dirigida por J. Leenhardt). O objetivo foi uma análise comparativa entre os livros Os Miseráveis (Victor Hugo), e Os Sertões (Euclides da Cunha) dois expoentes máximos da literatura de protesto. Os temas presentes nesses dois livros se convergem para um mesmo ponto: representa a voz dos oprimidos e não permanece apenas em seu grito abafado, mas são livros de civilização e cultura numa palavra: serem livros que expressam uma identidade nacional, que ajudam a balizar um ideário político e educativo de um povo a partir das denúncias neles contidos. A literatura não é a academia onde se concentra o conhecimento do mundo e o escritor o seu filósofo. Há ciências especiais para esse fim. Mas o escritor não é uma esponja a sugar os fragmentos que sobram do conhecimento do mundo, um criador de vazios. Se levarmos em conta que a linguagem funda e fundamenta a nossa cultura e toda "ciência" é acessórios histórico dela, então o escritor também, pelo uso da palavra, é um homem de ciência. Em suas metáforas convergem conhecimentos do mundo, ressoam ecos de profundas inquietações, abriga os jogos de sua contradições e estabelece esquemas não só de denúncias, mas de reflexões, insinua escolhas "ideológicas", fomenta e estimula, feito um manual cívico, comportamento exemplar. Eis talvez uma das suas contradições: não ter a pretensão de ser a ciência do mundo ao exilar-se da política, mas não se liberta de dar as suas lições. Educação e literatura talvez venha a insinuar o secreto desejo de atender ao máximo o leitor exigente e crítico. Mas é um texto mais de literatura que educação e se a educação aparece muitas vezes em suas linhas, é porque o autor é daqueles que acredita na força da literatura mais como fonte de sabedoria que de loucura.