Este livro é corajoso, é novo, é desaforado. Este livro afirma, com todas as letras, que ler é uma aventura de liberdade e prazer que nasce num tempo em que todos estamos na escola e esta, incapaz de respeitar essa necessidade lúdica, trai o prazer que a estimula, e faz da leitura um expediente composto apenas por tarefas árduas. A descoberta do mundo, que se ramifica em muitas atividades, e sobretudo na leitura, é, assim, comprometida nos bancos escolares, que não admitem que o aluno pegue um livro ao acaso, um livro que lhe seja próximo, e como se fosse um pai patrão do tempo antigo escolhendo 0 marido para a filha, aponta para o aluno a obra certa, geralmente clássicos forçosamente descontextualizados, espinho grosso para leitores verdes.O resultado é, como se sabe, um desastre: a resistência em ler, o enfado e a antipatia diante da página impressa. O jovem resistindo ao que lhe cai na mão e tem o nome de livro. Anos depois, já fora da escola, e mesmo frente a frente com um autor que fale a sua linguagem e possa revelar-lhe uma face profunda da realidade, o leitor destruído por essa escola autoritária, preguiçosa e desinformada já não pode mais encarar o livro, receber tudo o que este lhe oferta, a obra fica abandonada numa estante e o ex-futuro leitor permanente o ser míope que a vida escolar gerou.Máquina de Destruir Leitores é, apesar da vocação de ensaio, uma obra de ficção. Seria quase um descuido que o autor misto de pensador e narrador Jeferson Assumção, que mal chegado aos 30 anos já editou 15 volumes infanto-juvenis achasse para suas duras reflexões uma forma dura. Jeferson optou por uma solução diferente. Como uma espécie Monteiro Lobato, didático e simultaneamente fabulador, nos dá uma aula sobre dar aulas, nos ensina a lermos nossa dificuldade em ler, nossos vícios, o erro brutal de nossos educadores, e o faz criando cenas, compondo diálogos, provocando, com humor e informalidade, uma situação que se arrasta há décadas, e que precisa ser sacudida para mudar.