No início da turbulenta década de 1960, funcionou em um sobrado da rua da Carioca uma casa de samba. Que também era um restaurante. E que tornou-se um reduto dos principais nomes da cultura brasileira da época, um espaço onde, durante quase dois anos, foi o ponto de encontro da Zona Norte e Zona Sul cariocas. Este lugar era o Zicartola, a casa de samba comandada por Dona Zica, na cozinha, e Cartola, na música. Seu sucesso podia ser medido pela fila quilométrica à sua porte, que se estendia até a Praça Tiradentes, formada em sua maioria por jovens universitários e intelectuais de esquerda. Além dos encontros memoráveis que abrigou, a casa foi também o embrião de eventos marcantes como Opinião e Rosa de Ouro e foco da resistência cultural aos tempos sombrios que se anunciavam com o golpe de 1964. Ao mesmo tempo que deu espaço para o surgimento de uma nova geração do samba e da MPB (Paulinho da Viola recebeu ali os primeiros cachês de sua carreira), o Zicartola possibilitou resgate de velhos sambistas como Nelson Cavaquinho, Ismael Silva e Zé Kéti. A história da casa de D. Zica e Cartola é resgatada por Maurício de Castro, criando o panorama de uma época em que política e cultura andavam lado a lado.