Sou um personagem deste livro; aliás, sou uma referência literária, ou ainda uma citação. Comentar o romance no qual sou um dos elementos narrativos, portanto, apenas acrescentará mais um elo na cadeia da intertextualidade, que aliás é uma das pedras-de-toque para a compreensão desta obra de Antônio Vicente Seraphim Pietroforte. Lendo as páginas deste livro, você será apresentado a Marina, leitora de Figuras Metálicas, para quem "fazer poesia é como fazer tatuagem", frase que ecoa Severo Sarduy, autor de Escrito sobre um corpo, e ainda Peter Greenaway, diretor do filme Livro de Cabeceira. A inscrição de palavras na pele, convertida em página, é uma metáfora da eroticidade da escrita, a violação do corpo pelo alfabeto, mas também possui uma dimensão mágica, ritualística, e outra intersemiótica, que aponta para a quebra de fronteiras entre repertórios, códigos e gêneros, entre vida e linguagem. Estas anotações, breves e superficiais, são apenas pontos de partida para uma primeira reflexãosobre o fabulário engenhoso proposto por Antônio Vicente Seraphim Pietroforte, que faz do romance um fascinante quebra-cabeças ou caleidoscópio em que referências literárias misturam-se a outras da música popular e erudita, do cinema, da ciência, da filosofia, do universo pop, sem nunca perder o fio da narrativa e o cuidado na elaboração de cada personagem. É como se fosse uma enciclopédia adaptada para a história em quadrinhos. É como se fosse uma história em quadrinhos adaptada para o jazz. É como se fosse o jazz adaptado para um filme de avant-garde. É como se fosse um filme de avant-garde adaptado para a poesia de Claudio Daniel. É como se fosse a poesia de Claudio Daniel tatuada no corpo nu de Marina.