Muito se tem discutido sobre os impactos desses processos na vida dos moradores das cidades que recebem os presídios, bem como na vida dos familiares e amigos de presos que, para visitá-los, tem que realizar grandes deslocamentos e circular como outsiders por essas cidades. A análise realizada por Giane é, nesse contexto, uma referencia fundamental. O livro nos conduz ao complexo mundo das mudanças que se operam, nas ultimas décadas, em relação a percepções, sobre as punições. Portanto, Giane aborda os dois momentos em que foram criadas as unidades prisionais de Itirapina, 1978 e 1998. No espaço desses vinte anos mudaram as relações da cidade com as prisões ali instaladas, mudaram também as sensibilidades dos moradores em relação aos medos urbanos, à insegurança, aos criminosos que ali cumprem pena e em relação às pessoas que visitam os presos. Constata-se que ocorreu, de 1978 a 1998, muito mais que a construção de um novo prédio público numa pequena cidade do interior do estado. Com o trabalho de Giane não ficamos observando essas mudanças de longe. Ela nos proporciona uma aproximação dos personagens, dos seus sentimentos, das situações e dos espaços dessa trama de relações entre a cidade e prisão. Para tanto, além da experiência de ser moradora da cidade, Giane agregou uma pesquisa etnográfica, principalmente com as mulheres dos presos que se deslocam para a cidade para visitar seus esposos ou companheiros, registrou e analisou a complexidade das relações sociais dessas mulheres com os moradores da cidade. Em suma, o livro de Giane Silvestre é uma notável contribuição para o campo dos estudos sobre as prisões no Brasil.