Se Kafka chamou os escritos de Contemplação de kleine Prosa, prosa pequena ou "prosa miúda", com O veredicto, dele, poderia dizer keine Prosa, prosa nenhuma: o que antes era um movimento pequeno ou miúdo de sua prosa, ganha explicitamente a designação de "poema". No momento final de sua escrita, Kafka mencionará um "canto à incolumidade da construção" e Josefina, a ratinha, é uma cantora. Em todos esses modos, a escrita, que se desdobra em uma abundância de modos dispersivos, retira o especificamente literário da sua zona de conforto ao ir para além dele ou ficando-lhe aquém, em todo caso, levando-o a seu fora, não se deixando identificar com ele. Desobrar a obra chamade de literária a partir das múltiplas escritas, com seus relatos, a princípio, autobiográficos, sem as marcas habituais do que é reconhecido majoritariamente como literatura, é, certamente, uma das operações do que se chama Kafka, com a vida que vive adentrando a escrita e a escrita adentrando a vida que vive, confundidas em uma zona potencial.