Como chegar à verdade em uma família enrodilhada na mentira? Movida pelo inconsciente assombrado por uma verdade adormecida, Renata descobre que foi adotada, depois de viver por 23 anos como filha biológica dos pais adotivos. A revelação instaura um conflito estimulado pela insistência parental em negar o acontecido, numa tentativa de mantê-la protegida por antolhos invisíveis de um pertencimento então invalidado. As mentiras, transmitidas feito herança irrevogável, alimentam na protagonista a vontade de reivindicar a própria história, o desejo de alcançar a ponta do fio que desenrolará os fatos sobre si mesma. “Nunca fui o que sou.” Diante das lacunas geradas por essa imprecisão, Renata encontra na fabulação a possibilidade de preencher os espaços vazios de sua identidade. Entre o rancor e o amor que envolvem a família, ela faz da narrativa literária um meio de acesso às origens.