A desvalorização dos professores, identificada por diversas pesquisas, é incongruente com a retórica das legislações sobre as políticas educacionais que proclamam a valorização desses profissionais, como decorrência da aplicação de noções de valorização esvaziadas de sentido axiológico. Isso é coerente com o fato de o trabalho, fonte do valor que atribuímos às coisas, sob o capital não poder ser ele mesmo valorizado, uma vez que se busca condicioná-lo às necessidades do capitalismo de autovalorização constante e que pressupõe a expropriação dos valores gerados por outrem. É sob essa lógica que, ao anunciar a valorização do trabalho do professor, os governos nada mais fazem que buscar controlá-lo ao impor suas condicionantes para que a suposta valorização seja alcançada, reduzindo-a à dimensão salarial e das condições de trabalho, que nada mais são que o mínimo necessário para a manutenção e reprodução das condições de venda da capacidade de trabalho. Para a classe detentora dos meios de produção, bem como para o Estado burguês seu apêndice desde a primeira hora, o trabalho não tem valor no sentido do reconhecimento de sua função social, do sujeito trabalhador como sujeito político que, a partir de seus conhecimentos técnicos e experiências, intervem na realidade social com poder de transformá-la. O trabalho tem apenas preço, decidido a partir dos critérios da classe que detém o domínio econômico e a direção política da sociedade. Essa situação demanda aos professores a continuidade de suas lutas de forma independente de qualquer governo e com clareza de suas pautas, elevando-as além das econômicas, o que implica, também, na reivindicação de pedagogias que devolvam ao professor a especificidade de seu trabalho, a partir de concepções que reordenem sua centralidade com o objetivo do ensino dos conhecimentos historicamente acumulados e que hoje estão distantes da classe trabalhadora e de seus filhos nas escolas públicas.