Há livros que antes de serem lidos nos parecem supérfluos e que, uma vez lidos, mostram-se indispensáveis. Ao lê-los, descobrimos uma riqueza insuspeitada e uma importância para o desenvolvimento do pensamento do autor que explicam muitas coisas que nos deixavam talvez desconfiados. É o caso do volume que aqui apresentamos. Estruturalmente, está composto por três textos de diferentes tamanhos: a tese de habilitação ao ensino superior na Universidade de Frankfurt am Main, elaborada nos anos 29 e 30, depois retrabalhada e publicada no início de 1933, com sete longos e densos capítulos, com os parágrafos longos que caracterizam o estilo predominante de Adorno, numa análise globalizante da obra do pensador de Copenhague, e em seguida dois anexos: um, de 1940, composto como conferência para teólogos e filósofos do círculo americano de Paul Tillich; e outro já da última década de vida de Adorno, a partir de um discurso comemorativo ao sesquicentenário do nascimento de Kierkegaard. Como se pode imaginar, também este último anexo, datado de 1963, busca resumidamente uma interpretação da obra como um todo.Escrito originalmente como tese de doutorado na década de 1920, o livro de Adorno sobre Kierkegaard consistiu em um trabalho pioneiro de análise crítica e marxista da cultura. Sobre esta obra, Walter Benjamin escreveu: "pertence à classe de raros e peculiares primeiros trabalhos que revelam um pensamento vigoroso para apreciação da crítica". O livro traz, ainda, dois outros ensaios de Adorno sobre o filósofo, produzidos em distintos contextos. Na década de 1940, ele se debruça sobre os discursos religiosos kierkegaardianos; e, vinte anos mais tarde, concentra-se nos abusos cometidos contra a obra do pensador dinamarquês, ressaltando seu lado não conformista, crítico e de certo modo profético. Nestes três textos, Adorno revela parte do desenvolvimento de sua produção, bem como abre novas perspectivas para a compreensão da obra de Kierkegaard.